Esperança é um troço engraçado. E não falo do inseto, concreto, mas da outra ilusória que embora o seja, nos sustenta sempre como disse Clarice.
Veja só se a vida não é esperar? A gente passa a vida a fazer outra coisas se não a alimentar secretas esperanças ?
Aquele sonho escondido no fundo da gaveta, entre um pe de meia solitário e um resto de coragem empoeirado, se conserva ali, graças ao trabalho secreto da esperança.

A esperança é essa força secreta que nos move. Dizem por aí, e eu cheguei a acreditar que quem move o mundo é o tempo, o dinheiro, as perguntas. Balela! Quem move o mundo é a esperança verde escuro que a gente nasce trazendo e morre carregando.
A mesma Clarice que diz ser a esperança, ilusória e essencial, nos diz do terrível dever. E que terrível dever é viver, pra ela, terrível é ir até o final aguentar o fardo sobre os ombros, caminhar de sol a sol, empinando nossa Cruz e ainda sorrir no fim do dia satisfeito. Eis o eterno dever. E o que seria de nós, pobre mortais diante de tão hercúlea missão, não fora, a esperança que é a base de nosso edifício?
Então, diga-se o que disserem, não há nada mais belo, real é necessário que a esperança. Talvez a saudade, que é uma esperança esquecida, mas se quem espera sempre alcança, triste dos desesperançosos, ou dos desesperados.
Eu acredito no amor, na sorte, no dia seguinte. Eu tenho, fé, eu tenho alegria e às vezes eu tenho medo, mas eu sobrevivo, sobretudo e primordialmente porque eu tenho esperança. É ela que me sustenta.