Textos

A difícil arte de comprar bananas.

Fim de ano. Sexta-feira, quase véspera de Natal, um pé nas férias que de tanto não tê-las eu já não sei usufruir, de repente, me vejo trabalhando sozinho, sem a costumeira movimentação dos outros com quem divido o dia a dia. Eis que me dei conta de algo desastroso: estava com fome! Pois bem. Estava com fome e não havia quem me socorresse. Não que eu não saiba me virar, sou um homem moderno, sei fazer de tudo e faço de tudo um pouco, mas a questão é que como diziam nossas mães e avós “o costume é que mata.” Acostumado que estou aos cuidados ora da Claudia, ora da Jucileide, me dei conta que hoje não havia nenhuma delas para me garantir o suprimento matutino.
Nada havendo mais a fazer, eis que me lancei numa insólita aventura. Fui ao mercado. Atividade rara. Das menos costumeiras, e das que me dispendem maior esforço, como me custa decidir o que comprar! Contudo, como sou uma pessoa pragmática, contados os poucos caraminguás que consegui angariar pelas gavetas, sai resoluto: iria comprar bananas. Claro unir o útil ao agradável tomaria café , saciaria a fome que me consumia pela manhã e ainda por cima seria um café dieteticamente correto. Quem me imagina comendo frutas no café da manhã?
Cheguei à venda, sorriso amarelo. Tenho sempre a impressão de que as pessoas desconfiam de que eu não tenho a menor noção do que estou fazendo ali. Mas me empolei todo e comecei a mexer nas pencas de banana como se fosse um grande bananólogo, daqueles que passaram toda uma vida estudando o processo de amadurecimento das bananas e que sabem muito bem quais as mais maduras, quais levar pra casa e quanto tempo elas durarão até estarem prontas para serem consumidas na semana seguinte. A verdade é que eu apenas media quais as maiores.
O dono da venda me olhava de rabo de olho, tenho certeza de desconfiava de minhas intenções para com suas verdes bananas, me ofereceu outras, mais amarelas. Recusei, deveriam ser mais caras. Lembre-se, eu fui com os caraminguás contados. Aleguei:
– Prefiro essas!
Ele me olhou estranho como quem diz- Meu Deus! Quem em sã consciência prefere essas bananas? Mas nem suspeito por que.
Escolhi as que me pareciam as mais bonitas. Mas não tive maiores critérios, foram escolhas aleatórias, eu queria apenas me ver livre do olhar acusatório do vendedor que parecia me julgar por ter preterido as bananas que ele me oferecera. Suponho que em sua cabeça ele deveria pensar: “ Esse bicho só pode fumar pedra” .
Escolhi as bananas, ele as pôs em uma sacola e ai vem a pior parte. Perguntei o preço. Quase caio quando ele disse. Era pouco mais de uma dúzia de bananas e o preço era três vezes mais que o valor que eu dispunha. Quis morrer. Agora além de não entender de bananas eu não entendia nada de mercado financeiro e certamente era um caloteiro em potencial. Graças a Deus o mercado fica apenas alguns metros do trabalho. Atravessei a rua, consegui o restante do dinheiro e voltei para resgatar as bananas. Paguei-as e voltei heroicamente com elas. Mal as comi. Estavam verdes, mal amadurecidas, não supriram sua missão de saciar minha fome, o máximo que conseguiram foi esvaziar meus bolsos. Fiquei com fome, um pouco mais pobre. Estou evitando o vendedor de bananas, que sempre me olha esquisito, achando que eu devo beber gás.
E mais uma vez lembrei das nossas mães e nossas avós quando diziam que as coisas podiam ser compradas à preço de banana, quando se referiam a algo que podia ser comprado muito barato. Mal sabem elas que essa frase já não se aplica, ou talvez saibam, quem não sabia era eu que nem banana se compra mais a preço de banana.

One thought on “A difícil arte de comprar bananas.

  1. Primeiramente, parabéns pela iniciativa!
    Devo considerar que adoro esse gênero textual. Fazia tempo que não tinha visto alguém voltar a escrever crônicas, além dos mais conhecidos nas grandes colunas de jornais famosos. Gostei muito, principalmente, a parte que você disfarçou a ausência de entendimento sobre alimentos com uma especie de técnico no assunto, “bananólogo”.
    E por fim, ao decorrer consegui observar a função que mais tornou o texto interessante. Levantar a critica sobre o preço de bananas com o contexto atual foi uma das possíveis melhores sacadas.
    🙂 agradeço pelo texto!

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