Textos

Pequenas Ausências

Pequenas ausências, aos poucos, se tornam longas distâncias. Nem falo das distâncias físicas, que a gente ameniza com a tecnologia, ou mesmo com o pensamento, me refiro as distâncias da alma, essa espécie de lonjura que nos faz, devagar, ir cedendo terreno, abrindo outros caminhos, olhando por sobre o espaço vazio e vendo mais longe, ou nem tão longe assim.

A vida é feita de pequenas coisas, segundos que viram minutos, minutos que fazem horas, dias, meses, até que de repente o que um dia foi um segundo, se torna um século inteiro, e nele cabe uma eternidade. Nada, ou quase nada surge grande, imponente, as coisas vão surgindo como os dias que passam, aurora, após aurora, e devagar, de repente a vida acontece. E como é da vida que os dias passem, as lembranças vão dando lugar ao que não se faz presente.

O poeta disse, que tudo passa, e o tempo duro, tudo esfarela…O que não esfarela ele esconde no porão da alma, e vai transformando a ausência em esquecimento. É claro, há aquilo que não se pode esquecer, por mais profundo que sejam os rincões em que o coração decida guardar, mesmo assim, até isso que a vida impede que o tempo esfarele, torna se passado, porque um dia, sem querer, devagar, num esquecimento ou descuido se fez ausente.

Quando foi a última vez que você sentou na calçada com seus amigos para brincar? Houve um dia que foi o último, e depois a ausência de um, de outro, transformou o que era prazer e beleza em ostracismo e no máximo uma memória boa. A ausência não é um mal súbito, não acontece de surpresa, nem chega sem avisar. Ela pega os momentos e vai aos poucos despetalando, um pedaço aqui, uma pétala acolá e a vida vai indo embora, seguindo seu curso, como agua que escorre entre os dedos.

O mais cruel da ausência é que ela é um mal irremediável, depois que ela se instala não há antídoto, é possível lutar contra e até reverter em determinado ponto, mas depois de algum tempo, como diz o adágio popular, quem muito se ausenta, deixa de fazer falta. Eis o golpe final da ausência. Ela mata o significado que algo ou alguém teve. E depois da morte, mais nada.

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