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Rir é sempre o melhor remédio

Ontem deveria ser mais um dia normal. Acordei cedo, como faço todos os dias, não importando se segunda ou domingo, e, depois da rotineira higiene corporal, que exige normalmente um banho, ouvindo e berrando sucessos piegas da década de 1970, eu me dirigi ao trabalho.
Chego no trabalho, sigo a rotina de sempre e eis que, de computador ligado e xícara de cafe não mão, me surpreendo com uma pontada no peito esquerdo. Foi incômodo, mas não lhe dei maior importância, porque o dia só estava começando e eu tinha tanto pra fazer e tanto pra cuidar que uma pontada no peito era algo semelhante a uma topada no degrau da escada.
Deixei minha sala, subi a escada, conferi a arrumação das salas, verifiquei que as plantas não haviam sido regadas, subi ao terraço, fiz encaminhamentos na lanchonete e desci mais uma vez, desta vez passando pela biblioteca e pelo laboratório, agora um pouco mais contrariado do que havia subido.
Enquanto isso, alunos chegavam, subiam, entravam, saiam e os primeiros professores começaram a chegar. Recebi-os um a um, afinal, era o primeiro dia no pós férias. E, entre um cumprimento e outro, eis que a pontada no peito volta, mas dessa vez mais intensa e demorada, ela veio pra ficar mais tempo, e foi ficando.
Diante do sem fim de coisas que havia pra fazer, nada nais me restava senão conviver com ela ali, doendo miudinho. Era só mais uma dor, de tantas que a gente sente calado e que de tanto sentir se acostuma com ela, que chega, se avizinha e faz morada.
Mas essa não, não veio bem intencionada, era uma vizinha incomoda e barulhenta e queria tomar espaço. Do peito se espalhou para o braço e ombro e quando me dei conta já não doía caladinha, era uma dor carregada. Comecei a me queixar, disse a Loyde e a Domar que aquela dor me doía.
Não parei e voltei a subir as escadas pra acompanhar o intervalo e aproveitei pra conversar com Angela. Foi ela que percebeu que eu já não conseguia falar sem sem interrompido e que estava suprimindo a respiração.
Neste momento, entra Ana Roberta, que se dá conta de que a dor já doía mais que eu podia aguentar, e insistiu que fôssemos ao médico.
Relutei. Já ia passar, era uma dorzinha só, bobagem. Ana, a contragosto, desceu pra sua sala e eu continuei a conversa com a professora até me dá conta de que não conseguia mais.
Desci as escadas e disse a Ana que queria ir ao médico e já estávamos indo, quando me dei conta que estava Domar ocupado, Loyde cheia de coisas pra fazer, alguns alunos esperando atendimento e que os demais meninos não podiam atender. Segurei a dor mais um pouco e decidi ajudar, contrariando a vontade de Ana, visivelmente agoniada.
Ficamos um pouco mais, ajudando até que tudo se normalizasse, mas Ana pediu que Bebel, sendo enfermeira, viesse me ver, ao que ela, largando seus afazeres, prontamente atendeu e, ao verificar meu estado, não vacilou, vamos ao hospital.
A essa altura já não conseguia ficar em pé sozinho, e, apoiando por elas, entrei no carro e fomos.
Chegamos no hospital e fui prontamente atendido, médico, enfermeiras, técnicas ofereceram todo o suporte, me senti bem atendido e bem tratado.
Já estava tudo mais calmo, exceto pela dor que era incessante. Enquanto estava sendo medicando, e a espera da realização dos exames, eis que de repente se abre a porta da sala e entra o agente funerário.
Não tive outra reação se não olhar pra Helena e Aninha que estavam ao meu lado e dizer:
-Mas já? Isso é que é assistência.
Foi impossível conter o riso de todos.
Mas já que o agente, coitado, constrangido, estava ali, onde tinha ido pra também ser medicado, aproveitei e pedi:
-Meu filho, se eu morrer, faça tudo, mas no cortejo até o cemitério não toque “Segure na mão de Deus e vai”, por favor, que é capaz de eu me levantar e não ir.
Mais risos.
Já estou em casa, e em franca recuperação, ciente de que não importa o tamanho da dor, rir é mesmo o melhor remédio sempre.

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