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Tomara que chova

Choveu em fevereiro, o calor sufocante que fizera nos últimos tempos, deu lugar a alguns dias amenos, até frios. O mato seco das saídas da cidade, que precisa de pouco pra renascer, renasceu e renasceu também a nossa esperança, sobretudo do homem pobre e humilde que vive na roça e da roça tira seu sustento.
A Serra, antes tão cinzenta e seca, emaranhado de galhos retorcidos, foi aos poucos dando lugar ao verde imperioso, verde da esperança, está linda. Há dias em que roubo um pedaço de tempo e desço até a metade da Serra só pra vê-la linda e solene, se sabendo efêmera e talvez por isso mais bela e verde.
Março a despeito das expectativas entrou seco, quente, há vezes em que tenho a impressão que o sol está cada vez mais próximo de nós. Não choveu. Faz um calor absurdo e há lugares em que o verde já desvanece. Aos poucos escorre pelo ralo também a esperança de um ano melhor. Não é possível! Mais um ano de seca, mais um ano com a terra sedenta, quente, exalando calor.
Mal dormi, ontem à noite, me levantei algumas vezes pra ver se o céu nublava, se haveria por acaso esquecido em algum lugar na imensidão azul do céu um relâmpago, apurei os ouvidos em busca de um trovão e nada. A madrugada era puro silêncio.
Explico a minha expectativa madrugada afora, hoje é dia de São José e pela tradição e fé do povo, essa é a data referência pra chover, não chovendo hoje é sinal de mal inverno. Eu que acredito em pouca coisa, me agarro a esperança e a fé de quem acredita, pra justificar meu medo de mais um ano de terra seca, rachada, de sol escaldante e calor sufocante. Mais um ano sem água nos açudes, nas cacimbas, nas torneiras, mais um ano de máquinas perfurando o chão já sofrido e cansado em busca da água valiosa.
O sol amanheceu majestoso no céu, já vai alto e quente a essa hora e o calor já começa a tomar conta de tudo, não vejo prenúncio de chuva no céu. Talvez não chova e talvez isso não queira dizer nada, quem sabe em abril chova mais e melhor, ou talvez a fé do povo tenha razão, hoje seja o dia. E se não chover será melhor acostumar-se a terra seca que ficará cada vez mais seca.
Eu, homem de pouca fé, desvaneço logo de qualquer expectativa, mas sei que ao contrário de mim milhares de homens e mulheres que precisam desse milagre, olham o céu de olhos marejados, no olhar uma súplica, um pedido, uma oração silenciosa e eu, tão pequeno e incrédulo me uno a eles. Tomara que chova!
Que a fé movedora de montanhas seja capaz de mover as nuvens e fazer chover. Caso chova mais tarde não serão simplesmente gotas de água, serão também pingos de esperança.
São José, olha esse povo, olha essa terra, árida, seca, sedenta. Não esqueça deste povo que deposita na chuva a esperança de uns poucos dias melhores. Eu não sei rezar direito, meu santo, mas sei pedir e peço por esta terra, por estes homens e mulheres que não sabem o que fazer, se não acreditarem na providência divina.
Tomara que chova!

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